terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Partiu

Ai, a vida não é fácil. Amores não são fáceis. Dói e você suspira alto pra que alguém te ouça.
Tomei a decisão de perder as esperanças de um romance que não tem pra onde ir. Pois é, o coração começou a doer, a reclamar, a se manifestar e eu decidi que chegou a hora de acabar. Quando se acostuma com um sentimento ali guardado num fundo de armário, na posta restante, tudo bem, agora quando ele começa a dar as caras e te fazer sofrer, o melhor é esquecer.
Começa assim: fomos dois passarinhos que se bicaram, logo de cara se gostaram, voaram num azul nordestino, cantaram um pro outro singelas melodias e se despediram. O destino decretou. Um de nós tinha que partir, isso era inevitável.
Eu fui o passarinho que partiu, meu coração também partiu.
Se morássemos perto, se eu tivesse sorte, se você estivesse sozinha, o reencontro seria lindo. Mas eu moro longe, eu não tenho sorte, e você não está mais sozinha. Nessas circunstâncias, eu demente que sou, insisti em dizer a mim mesma que alguma coisa ficou, que restou uma chama daquela loucura de verão. Não era amor, não era paixão avassaladora, mas era simplesmente uma vontade de estar perto, dividir um pouco dos meus dias, dos meus pensamentos. Fui vivendo os dias, realizando coisas, encontrando pessoas, me encantando, mas, nada demais.
Mas o tempo passa, não passa? Pois então, passa. Rápido, ligeiro.
Passado um ano, retornei ao céu nordestino. No verão. E logo quando chego à cidade, a reencontro por acaso, dentro de um ônibus, indo para o mesmo lugar. Não sei explicar qual sensação que tive ao reencontra-la, mas foi estranho, tremi na hora. Ela olhando no fundo dos meus olhos, parecia contente em me ver e eu desviando o meu olhar, parecendo descrente em vê-la. Já havia rumores de que ela estava com outra pessoa.
Passei meu verão nesse céu de meu deus, a reencontrei algumas vezes com a sua nova companhia, mas antes de partir, me pronunciei. Um certo dia eu precisei deixar exposto o que eu sentia, nem eu mesma sabia o que era, mas parecia ser um carinho especial, um xodó dentro de mim, alguma coisa assim. E enviei a seguinte mensagem, ainda não sabendo direito sobre o que eu queria dizer: "Na minha memória, tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos.” Caio F. Abreu. E mais algumas palavras de adoração e só. Do lado de lá não se ouviu um piu.
Mas o tempo passa, não passa? Pois então, passa. E rápido. Ligeiro. Tanto que foi agora que me dei conta que há dois anos eu sustento uma coisa dentro de mim que tem um nome, cujo todos conhecem – ou já conheceram – que é a tal da esperança.
Pois então, eis que o passarinho parecia que ia vir morar pros lados de cá. A minha esperança – que já existia – cresceu, deu pulos de alegria, parecia que os anjos iam dizer amém ao nosso encontro e finalmente eu iria ser sua nova companhia.
Quando quero uma coisa que me parece ser improvável de acontecer, eu busco imagens, eu acho argumentos, eu acredito que pode dar certo – ou pelo menos acreditei - eu consigo enxergar você, você na minha vida, você na minha rede, no meu café da manhã, no meu cinema, no meu dia, na minha canção, você é a minha canção ainda.
Enquanto isso, o passarinho continuava vivendo sua vida do lado de lá, feliz, e acompanhada. E eu vivendo a minha do lado de cá, sozinha, porém esperançosa.
Passado um tempo, começamos a conversar quase todos os dias. Nos falávamos, trocávamos segredos, desejos, jogávamos conversa fora, eu gostava de falar das minhas inquietações, dos meus planos. Ela falava do seu dia, das suas vontades, dos seus estudos – e gostava muito de saber minha opinião - mas do lado de lá o que o outro sentia era mistério. Não se falava em sentimento, se falava em tudo, menos em sentimento. Não se falava dos relacionamentos, paqueras e nem mesmo frases como “eu adoro você”, “eu sinto sua falta”, “saudades demais”. Nem eu, nem ela.
Ela é de terra e eu sou de água. Ela é prática e razão por excelência, troca de par como se troca os sapatos. Eu o oposto. Eu cismo! Cismo com alguém e pronto, tô apaixonada. Não sei ser de outro jeito, bem que gostaria de ser diferente, mas não sei.
Mas o tempo passa, não passa? Pois então, passa. E ás vezes dói.
E o sentimento que eu não sabia descrever, me parece que cresceu e virou paixão doída, sabe, dessas que dói? Avisei a ela que iria chegar, com certa pretensão, achando que poderia ficar sozinha com seus botões, me esperando. Mas não, saiu de um e partiu pra outro romance. Faz poucos dias que ela está com uma outra nova companhia e eu prestes a ir ao céu nordestino novamente... Ironia do destino? Não sei se é o destino ou se a falta de sorte. E dessa vez doeu, doeu de chorar. Choveu por aqui, o dia todo!
Está mais do que na hora de se despedir desse amor que só foi aquilo e nada mais. Ele ficou durante muito tempo guardado num fundo de armário.
Mas o tempo passa, não passa? Pois então, passa. Rápido. Ligeiro. E com ele a nuvem negra também passa! Hoje será o último dia de choro baixinho. 

Quero ver o céu nordestino novamente e voar com outro passarinho, ou melhor, outros passarinhos, muitos, vários.